
João Telles Corrêa Filho
Com a recente troca de Ministros a Presidente Dilma Rousseff claramente comprou do PMDB um “vale-permanência no cargo até o final do mandato”. Foi uma manobra desesperada de quem parece já quase não acreditar que seja possível evitar a abertura de um processo de impeachment no Congresso Nacional – o movimento tático foi feito exclusivamente junto ao baixo clero do partido na Câmara dos Deputados, casa por onde tramitam as autorizações para estes processos e que é, portanto, a porta a ser fechada. Parlamentares inexpressivos indicados pelo igualmente inexpressivo líder da bancada (confesso que não consigo recordar um nome sequer) foram designados para conduzir pastas de importância central como Saúde e Ciência e Tecnologia (neste um amigão do polêmico Eduardo Cunha) que afetam diretamente a vida dos cidadãos e o desenvolvimento do país. A desculpa anterior de que a reforma visava reduzir o tamanho do governo e economizar nossos impostos foi praticamente esquecida, até mesmo no discurso de posse dos novos Ministros. E o Brasil, como ficou?
Ficou muito pior na Educação cujo antigo ministro, um homem reconhecido na área e aparentemente desligado de paixões partidárias e ideológicas, foi substituído pelo inevitável Aloísio Mercadante, economista socialista que integra a tropa de choque dilmista, reconhecido quase que por todos os políticos como um desagregador e criador de crises. Na área que deveria formular e implantar as políticas de longuíssimo prazo essenciais para vencermos o atraso, a vida útil dos ministros deste segundo mandato de Dilma não chega a quatro (!) míseros meses.
Ficou pior no chamado núcleo do governo, onde atuam os ministros responsáveis pela coordenação política e administrativa do Executivo e que foi tomada de assalto pelo ex-presidente Lula através de Jacques Wagner e Ricardo Berzoini. Esta é uma situação esdrúxula e inusitada – a governo será tocado de fato por um cidadão que não foi eleito (e que está sob crescente suspeição perante a opinião pública e as autoridades), através de pessoas de sua mais completa confiança colocadas a dedo nos dois postos mais estratégicos do ponto de vista político-institucional.
Ficou pior na Saúde, onde o Ministro anterior, apesar de não ser nenhuma estrela, vinha administrando os problemas razoavelmente bem, segundo a própria Presidente que, bem à sua maneira, tratou de demití-lo telefonicamente para dar o cargo a uma de suas novas tábuas de salvação (um deputado psiquiatra do Piauí).
Continua ruim na economia que, a despeito das qualidades e boas intenções de Joaquim Levy, permanece estagnada à espera de um milagre que não virá. O Ministro permanece no cargo – por enquanto – mas é permanentemente bombardeado pelo partido que deveria apoiá-lo e pelos assim chamados “movimentos sociais” que passam o tempo todo apregoando que não admitem a saída de Dilma mas que exigem a demissão do ministro por ela indicado e o fim do ajuste que apenas começou. É uma situação esquizofrênica que não pode ser ocultada e que agrava dia-a-dia a paralisia do país e dos mercados. Basta ver as projeções do Banco Central, os índices de desemprego e inflação e todos os outros indicadores econômicos para comprovar que o Brasil travou.
E continua ruim nas outras vinte e tantas áreas sobre as quais não há espaço nem ânimo para escrever (e ler).
A isso se soma a desastrada investida da área jurídica do governo contra o relator do caso das pedaladas no TCU (cujo desfecho ainda não ocorreu no momento em que este comentário foi escrito). Mais uma vez a Presidente e seus assessores viram uma casca de banana e correram para nela pisar … Afrontar o órgão que assessora tecnicamente o Poder Legislativo, confundindo-o como parte do Judiciário, tentando equiparar uma análise contábil-financeira com um processo judicial e comparando um conselheiro de contas com magistrados é um disparate que deve estar causando vergonha a quem se graduou em Direito nas mesmas escolas que os ministros Cardoso e Adams. O efeito deverá ser o de um enorme tiro pela culatra: os demais conselheiros deverão se solidarizar com o relator, boa parte dos congressistas deverá se rebelar contra mais esta “agressão” do Palácio do Planalto e, muito possivelmente, o STF, se acionado, lavará as mãos com o argumento, correto, de que isso é problema do Poder Legislativo. Assim parece que sobrará para Dilma somente o desgaste. Mais um.
* João Telles Corrêa Filho é engenheiro e consultor empresarial.