Nestas últimas semanas tem havido uma tal enxurrada de notícias sobre política e polícia que fica quase impossível fazer um comentário sem que se corra o risco do “efeito iogurte”, através do qual tudo tem prazo de validade inferior a três ou quatro dias. Ainda assim vale a pena tecermos algumas considerações sobre a alegação do governo e do Partido dos Trabalhadores de que um golpe de estado está sendo urdido. Mas, afinal, que golpe é este que:
É perpetrado pelo Congresso Nacional com base em lei aprovada há mais de 60 anos, recebida pela Constituição de 88 e, mais importante, disciplinada por julgamento do Supremo Tribunal Federal transmitido pela televisão no final de 2015. Então, de acordo com os partidários do governo todos os deputados, senadores e ministros do STF devem ser presos imediatamente por crime de lesa pátria!
É apoiado por mais de dois terços da população brasileira conforme pesquisas de opinião feitas por todos os maiores institutos do país e corroboradas pelas multidões que têm ocupado as ruas de todas as capitais e de inúmeras cidades médias e pequenas brasileiras, somando, na avaliação conservadoras das Polícias Militares, mais de 3 milhões de pessoas somente no último dia 13 de março. Será que os milhares de pesquisadores, analistas e compiladores de dados também deverão ser enviados às prisões para fazer companhia aos políticos e juízes traidores?
Por outro lado, enquanto dedica todo o tempo e energia de que dispõe para se agarrar ao cargo, a Presidente Dilma Rousseff abandonou por completo suas obrigações enquanto chefe da administração do país, limitando-se a lamentar a “crise internacional” que, segundo sua ótica caolha, persegue e prejudica seus planos há intermináveis 9 anos, inexplicavelmente poupando a maior parte dos países ricos e remediados de todo o mundo. Será que não seria mais produtivo que a Presidente olhasse para seu entorno mais próximo e percebesse que o golpe, se é que há golpe, está sendo aplicado por seus pretensos aliados? Afinal, sempre é útil lembrar que:
Foi o PT e os demais partidos ditos populares que sabotaram e votaram contra todas as medidas do ajuste fiscal propostas por ela e pelo ex-ministro Joaquim Levy, economista sério e reconhecidamente capaz levado por ela ao governo com o objetivo de salvar o país do desastre resultante da administração Dilma/Mantega/Agostin. Se isso não é um golpe institucional, é um golpe baixo (marcado por nove impressões digitais) que deveria ter sido denunciado pelos assessores de confiança que ainda restam nessa desastrosa administração.
Os “movimentos populares” não se cansam de esbravejar que “não vai ter golpe” e que apoiam a Presidente desde que não seja feita a reforma da previdência, não seja feito o ajuste fiscal, não seja reduzido o ridículo número de ministérios, não seja feita a reforma trabalhista e outros nãos a tudo o que já foi aventado pela própria Presidente assim apoiada.
Foi a cúpula do partido da própria Presidente “golpeada” que sujou as mãos e os pés no esquema de compra de apoio político em conluio com empresários e funcionários públicos corruptos. Os policiais, procuradores e juízes não inventaram nada, apenas descobriram o golpe dado contra a nação e estão mandando, um a um, os responsáveis para a cadeia, conforme o devido processo legal. Não fosse verdade 3 bilhões de reais não teriam sido recuperados e outros 20 bilhões não estariam a caminho de reingressar nos cofres do Tesouro.
Segundo aqueles que dizem que um golpe está sendo armado, estes recursos deveriam ser devolvidos às contas dos criminosos e o Brasil deveria pagar a eles indenizações e reparações.
* João Telles Corrêa Filho é engenheiro e consultor empresarial.