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By Lara Cifali
Veja-se diante da seguinte situação: Você está em Firenze, o berço da arte renascentista, já se deixou perder, deliberadamente, pelas ruas estreitas do centro histórico, visitou cada galeria na Ponte Vecchio com suas joalherias repletas de peças e belos corais, dispostos impecavelmente em vitrines lotadas, esbarrando vez ou outra em algum músico que rouba sua atenção, enquanto saboreia alguns torrones e espera o romântico pôr do sol às margens do Rio Arno.
Em meio àquela explosão de cores que variavam entre o azul intenso e nuances dos alaranjados, ainda mais bonitos quando refletidos sobre a água, juras de casais – trocadas numa das línguas mais sentimentais – e seus cadeados gravados, simbolizando o amor indissolúvel que ultrapassa os limites do tempo, algo veio à mente como um estalo: Para onde irei amanhã? – Sim! Sou daquele pessoal que não se identifica com roteiros engessados, repletos de metas protocolares a fotografar, como quem diz: Eu estive lá. –
Com esse sentimento, resolvi então seguir o caminho de volta para meu apartamento temporário, localizado no centro histórico – recomendo fixar estadia por lá – quando sinto um aroma incrível, vindo de um pequeno ristorante todo em pedras, tilintares de taças de vinho da região e menus expostos em molduras de quadros.
Entre uma e outra garfada deliciosa de Gnocchi ao molho de alcachofra, azeitonas pretas e pistacchio, ouço alguém comentando com entusiasmo sobre um vilarejo medieval ideal para passar o dia.
Partindo de trem de Firenze, em uma hora eu estava em Poggibonsi e foram mais dez minutos até a murada San Gigmignano.
Em tempos atuais, essa bela cidade etrusca, declarada patrimônio da humanidade pela UNESCO, encanta tanto turistas ávidos por fotos, quanto reais apreciadores do período medieval, pela conservação da sua arquitetura praticamente intocável desde o século 3 a.C.
Mesmo diante da breve “síndrome do turismo em massa” (que tem ocupado seus pormenores durante o dia e finais de semana), San Gimignano, permanece com o seu charme intacto e, em pouco tempo, aquelas bandeirinhas que enfeitam suas ruelas, voltam a dançar suavemente quando se aproxima o entardecer ou durante a baixa temporada e, principalmente, em dias de semana.
Caro leitor, se você aprecia museus, se conecta ao astral de igrejas que guardam muitos afrescos e, principalmente, se deseja experimentar (e poder repetir sem esperar na fila) o belo gelato que recebeu o título de “melhor sorvete do mundo”, o ideal é chegar em San Gimignano a tarde e pernoitar.
Uma vez que, ao cair da tarde permanecem apenas alguns visitantes e moradores locais. Caminhe sem pressa, experimente saborosos queijos em uma das lojinhas que lhe chamar a atenção, dê um colorido ao seu olhar apreciando floreiras e jante tranquilamente degustando um bellissimo rosso della regione.
Conhecer San Gimignano e não fazer uma ótima e agradável degustação de vinhos é um verdadeiro desperdício. Prefiro me abster de listar locais e pontos turísticos, pois basta deixar-se levar caminhar para conhece-los. (aliás, a surpresa é melhor).
Vamos ao ponto, sou real apreciadora de vinhos e tive a oportunidade de desfrutar de uma experiência única e em grande estilo, na qual pude caminhar por vinhedos coloridos e aromáticos, aprender sobre cada uma de suas safras, participar de histórias transmitidas de geração em geração e, principalmente, apreciar os renomados vinhos e azeites produzidos no Tenuta Torciano.
Por fim, despeça-se (temporariamente) de San Gimignano com a visão do Palazzo del Popolo que serve de acesso a mais alta das torres medievais remanescentes. Os 280 degraus são esquecidos diante de uma das mais belas vistas de Chianti.