Expectativas
João Telles Corrêa Filho*
Não é possível iniciar um novo ano sem que expectativas sejam criadas e previsões (ou serão apenas palpites?) sejam feitas. Como acabamos de entrar em 2017 e não pretendo contrariar um hábito tão antigo, vou me atrever a apresentar aquelas que, a meu ver, são as tendências, riscos e oportunidades que mais provavelmente nos aguardam neste novo ano. Faço isso contando com a compreensão (daqueles que terão a paciência de ler este resumo) para com os inevitáveis erros que serão cometidos agora e comprovados daqui a doze meses. Minha intenção é apenas estimular um debate sobre os principais tópicos que nos afetam e, assim, contribuir para a busca de respostas a nossos inúmeros problemas.
Sobre o ambiente econômico e político do Brasil, merecem maior atenção as perspectivas para:
Crescimento econômico – os estímulos para o fim da recessão parecem vir exclusivamente da queda da inflação e, consequentemente, dos juros básicos fixados pelo BC. A queda brutal do consumo e da produção verificada nos últimos 30 meses cumpriu sua missão de diminuir o ritmo inflacionário para valores que, embora muito altos se comparados a países mais saudáveis, aproximam-se da meta estipulada pelo CMN e permitem um abrandamento da política monetária.
A administração de Michel Temer, em que pese sua baixa popularidade e os problemas legais com a Lava Jato, vem cumprindo sua promessa de recolocar o país nos trilhos de uma normalidade econômica minimamente aceitável – foi aprovada a PEC do teto de gastos, foram iniciadas as reformas trabalhista e previdenciária (ainda que não se saiba o que sobrará delas após passarem pelo campo de extermínio de boas intenções instalado Congresso Nacional), foi aprovado um novo conjunto de normas para a administração das estatais e um bom projeto de reforma do ensino secundário foi proposto. Tudo indica que, se escapar de Sergio Moro, o governo poderá deixar como legado, se não a volta do crescimento, pelo menos o fim do caos e isso não será pouco, dado o tamanho da destruição causada pelas teorias petistas. O grande (enorme) risco que irá pesar sobre este governo até o fim do mandato vem da operação Lava Jato e das delações da Oderbretch que, inevitavelmente, levarão ao afastamento ou à prisão boa parte dos caciques políticos que sustentam o programa de salvação da boa equipe econômica de Temer o que, no limite, pode levar o país a um novo período de paralisia político-econômica semelhante aos últimos seis meses do período dilmista.
A válvula de escape para um cenário ainda tão desanimador só poderá vir do agronegócio e das divisas em moeda forte que são proporcionadas por este que é o único setor da economia que permanece funcionando satisfatoriamente; os investimentos deverão permanecer em nível bastante reduzido, com alguns movimentos de privatizações ainda tímidos devido à insegurança política e à sobrevalorização do Real. Com o consumo ainda muito deprimido e os juros elevados, o já endividado empresário brasileiro não terá ânimo ou fôlego para investir, limitando-se a continuar na expectativa por dias melhores e por investimentos públicos que também serão modestos. Assim, o desemprego continuará a assombrar milhões de pessoas neste novo ano.
Sobre o ambiente internacional, a surpresa da eleição de Donald Trump para a presidência da maior economia do planeta ainda não foi bem assimilada e suas consequências ainda não foram completamente compreendidas pelos analistas. Em um primeiro momento é possível, somente, fazer algumas especulações:
Se levado adiante, o ambicioso programa de investimentos em infraestrutura anunciado na campanha eleitoral irá pressionar o já gigantesco déficit norte americano e, consequentemente, os juros básicos dos EUA. Isso terá reflexos claros sobre a nossa taxa SELIC, retardando a queda dos juros por aqui, num movimento oposto àquele descrito mais acima. Resta ver o que vencerá.
O Presidente eleito é claramente protecionista e deverá defender com vigor os interesses dos produtores agrícolas americanos (parte importante de seus eleitores), impondo barreiras à importação de nossos produtos pelos consumidores locais. Este fato, somado ao já pequeno grau de abertura da economia brasileira, poderá introduzir pressões importantes sobre nosso balanço de pagamentos.
Do ponto de vista político, Trump é um notório isolacionista e deixará a América Latina (Brasil inclusive) ainda mais esquecida do que o fizeram Bush e Obama. Ainda que isso não seja uma grande novidade, não é bom ser ignorado pelo país mais rico e poderoso da Terra.
Por último, mas com a maior importância, um comentário sobre o que espera nossas empresas. É óbvio que o cenário não é dos mais alvissareiros, porém é indispensável que o empresário nacional, não importando de que porte ou setor, prossiga com programas de aumento de produtividade (o único modo seguro que se conhece para aumentar lucros e renda) e corte de desperdícios. É necessário implantar métodos de análise de processos e custos que permitam a rápida identificação e eliminação de todos os fatores que geram desperdícios e destruição de valor. A vigilância sobre o orçamento e a intolerância à inadimplência de clientes Isso devem que ser aplicadas todos os dias, todas as horas. Só quem agir nesta direção sairá deste triste período com forças para retomar o desenvolvimento.
Feliz 2017.
* João Telles Corrêa Filho é engenheiro e consultor empresarial (www.tellescorrea.com.br).