Encurralados!

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Encurralados!

 

João Telles Corrêa Filho Telles Corrêa Filho

João Telles Corrêa Filho

As novas passeatas de protesto contra o governo, os partidos e os políticos em geral seguiram um roteiro praticamente idêntico daquelas ocorridas em março e abril: uma imensa massa de pessoas predominantemente das classes A e B nas capitais e grandes cidades vestiram camisetas verdes e amarelas (quase todas da seleção brasileira de futebol), reuniram a família e os amigos e foram às ruas pedir a saída da presidente, a extinção do PT e a canonização de Sérgio Moro. A revolta é justa e o modo como foi externada é civilizado e democrático, porém o resultado que delas se pode esperar é praticamente nulo, o que significa que houve um empate técnico neste último domingo: ao mesmo tempo em que os 70% de descontentes desabafaram e voltaram para casa com a alma lavada, o governo, os partidos e os políticos em geral (aqueles mesmos que foram execrados) voltaram para seus palácios e apartamentos funcionais conscientes de que ganharam um tempo precioso para deixar a poeira baixar e voltar a fazer o que sempre fizeram: nada de útil para o país. Nesse meio tempo o Brasil fica praticamente sem governo e sem uma alternativa legal para resolver o problema. E por que isso acontece?

Em primeiro lugar porque agora, como nas outras ocasiões, não houve quem liderasse os manifestantes de modo a canalizar toda essa insatisfação na direção de um conjunto de ações concretas e possíveis que deem respostas minimamente plausíveis para suas exigências por melhores práticas políticas e por reformas econômicas que façam algum sentido. Os caciques da oposição estão muito ocupados com seus interesses pessoais e suas próprias brigas partidárias e, é bom que se diga, têm os mesmos defeitos e qualidades da turma que hoje está no poder pois, como dizia o impagável Tavares criado por Chico Anísio, “são todos feitos do mesmo barro”. Temos algo como 10 partidos de oposição e nenhum que seja capaz de fazer o que o PT fazia com competência nos seus tempos sérios, deixando a multidão de insatisfeitos ir às ruas num clima quase de carnaval e não conseguindo tirar disso nenhum proveito prático.

Em segundo lugar, as alternativas apresentadas no caso do “fora Dilma” não têm nenhum amparo na Constituição ou na legislação infra-constitucional: a ideia da antecipação das eleições foi um disparate que caracterizou uma daquelas grandes oportunidades que o autor perdeu de permanecer em silêncio; o impeachment tão insistentemente pedido depende de provas de difícil obtenção e de uma maioria qualificada nas duas casas do Congresso o que, convenhamos, parece bastante improvável; a renúncia, por sua vez, seria um ato de vontade e grandeza exclusivo de Dilma Rousseff que não parece nem um pouco inclinada a abrir mão do mandato que lhe foi concedido tão recentemente. Também não é de seu perfil reconhecer a imensa quantidade de erros cometidos e propor honestamente que seja formada uma administração voltada ao resgate do Brasil.

Para completar, a tão desejada volta do crescimento depende de muita paciência e de uma boa dose de sofrimento das pessoas e das empresas – o estrago feito pelo trio Dilma-Mantega-Tombini nos últimos anos foi tal que precisaremos de muito tempo, choro e ranger de dentes para consertar o que foi destruído. Não basta um bom ministro, um ótimo diagnóstico e boas propostas – serão necessários políticos sérios que votem medidas em prol do Brasil e esqueçam por pelo menos um mandato seus interesses paroquiais, que deixem para trás as ideologias mofadas das décadas de 40 e 50 e que ponham de lado seus ódios partidários e vinganças pessoais. E estes políticos terão que ter toda essa grandeza e desprendimento ao mesmo tempo em que são investigados pela Justiça, procurados pela Polícia e desprezados pela opinião pública …

É neste ambiente, com estes políticos e a partir desta realidade que empresários e trabalhadores são chamados a reconstruir a economia pensando em:

Aumentar significativamente a produtividade de país como modo necessário (mas não suficiente) de tornar nossos produtos e empresas mais competitivos no mercado mundial.

Reduzir substantivamente o tamanho paquidérmico do Estado, privatizando tudo o que pode e deve ser feito pela iniciativa privada, eliminando milhares de cargos públicos e extinguindo privilégio de juízes, políticos e de um sem número de corporações incrustradas no Estado a exemplo dos países que são bem sucedidos em proporcionar a seus povos um nível adequado de vida.

Cuidar para que a inflação caminhe para níveis aceitáveis (em torno de 3 a 3,5% ao ano) nos próximos três ou quatro anos no máximo.

Manter o câmbio flutuando o mais livremente possível para que nossa indústria não seja definitivamente posta de lado no mercado internacional.

Refazer o sistema tributário e a legislação trabalhista com máxima urgência ou mataremos o que resta de nosso parque produtivo.

Exterminar a impensável burocracia que existe no Brasil, irmã xipófaga da corrupção pequena mas corriqueira e onipresente nos balcões das repartições públicas de todo país.

Tudo isso e mais algumas coisas terão que ser feitas apesar dos políticos e do governo e não com eles. É a hora das lideranças.

* João Telles Corrêa Filho é engenheiro e consultor empresarial.