
2015 vai entrar para a história como um ano que deveria ter sido pulado no Brasil. Como isto não é possível, só nos resta tentar aprender com a inacreditável quantidade de erros cometidos e rezar para que as coisas comecem a melhorar. Acontece que isso também será bem difícil e vai exigir muito esforço, pelo menos com os atores que estão em cena: Dilma, Renan, Cunha e outros do mesmo naipe.
O fato é que estamos presos em algo parecido àquilo que os programadores de computador chamam de “looping”, uma situação em que, não importa o que se tente, sempre conduz ao mesmo lugar, até que ocorra uma intervenção mais drástica para que seja retirado aquele trecho defeituoso do programa e o sistema volte a funcionar normalmente. A situação brasileira é amplamente conhecida e as providências necessárias de imediato já foram discutidas à exaustão, havendo consenso a respeito de tudo o que é urgente: reformas econômicas estruturais, ajuste fiscal, reforma política, etc, etc. Então é mais do que óbvio que o nosso looping ocorre porque as pessoas que ocupam os cargos chave para por em andamento essas providências não têm nenhuma condição de dar os primeiros passos – estão todas concentradas em salvar seus cargos e em ficar longe da toga de Sério Moro e dos camburões da PF.
O governo (aqui entendido como o poder executivo) não existe mais, a Presidente perdeu não só a popularidade, perdeu o respeito mínimo necessário para poder sair às ruas e já não consegue aprovar absolutamente nada no Congresso; o Ministro da Fazenda propôs algumas medidas de ajuste econômico, tímidas frente ao caos criado por sua chefe nas finanças públicas, e ficou sozinho, pregando no deserto intelectual e moral do Estado brasileiro, sem conseguir aprovar qualquer coisa que desse um mínimo de alento aos mercados ou aos cidadãos – resta saber por quanto tempo Joaquim Levy ainda se prestará a esse papel e quem será o novo administrador da massa falida chamada Brasil. O restante do ministério não merece maiores comentários.
De seu lado, o poder legislativo só não chegou ainda ao fundo do poço graças a enorme capacidade dos políticos de seguir cavando. Apenas para ilustrar, a sessão do Senado que aprovou a permanência do líder do governo na rede hoteleira da Polícia Federal foi um show de horrores televisionado para comprovar, ao vivo, em cores e alta definição, a tese de que o Congresso e os partidos já não representam ninguém além deles próprios: a atuação de Renan Calheiros tentando o impossível para garantir que o próximo a ser preso não seja ele mesmo foi digna de um prêmio de ópera bufa sertaneja. Na Câmara os deputados discutem há meses se as fotos de Eduardo Cunha & família na papelada de um banco suíço são realmente deles e se isso é ou não falta de decoro! O partido da presidente atualiza diariamente a contabilidade da prisão de seus líderes, a oposição evaporou e o campo está aberto para os salvadores da pátria inspirados em Collor e Jânio ou para os defensores da volta dos militares ao poder.
Resta então o Judiciário (ou pelo menos a filial curitibana da Justiça Federal), o Ministério Público e a Polícia Federal. Se pensarmos bem, vamos ver que somente a parte repressiva do poder estatal brasileiro ainda parece funcionar e, mesmo assim, seletivamente: afinal, o que houve com o caso dos 27 deputados e senadores denunciados pelo Procurador Geral da República ao STF em março deste ano? O Ministro Teori Zavaski achou por bem dar continuidade às investigações e o assunto foi hibernar em alguma gaveta de Brasília, deixando os suspeitos completamente à vontade para seguir alegremente com suas vidas, “representando” seus eleitores e votando (ou obstruindo) tudo conforme os interesses de sempre.
Então, como nos livrar desse círculo infernal? Parece evidente que, na absoluta falta de lideranças políticas e institucionais dignas do nome, somente com a saída dos três personagens centrais (Dilma, Renan e Cunha) será possível retomar o caminho da normalidade. É claro que a tríplice renúncia seria o caminho menos traumático para que um governo de reconstrução pudesse ser instalado para tarefa de encerrar de uma vez este triste capítulo de nossa história; infelizmente também parece claro que “renúncia” é uma palavra que não consta do dicionário de nenhuma dessas figuras. Sobra, então, o caminho mais longo e dolorido da cassação de Eduardo Cunha e Renan Calheiros e do impedimento de Dilma Rousseff, eventos que consumirão meses preciosos, tempo que deveria ser usado para começar o enorme trabalho de recuperação da economia e da credibilidade do Brasil perante os cidadãos, os mercados e a comunidade internacional. Durante esse tempo continuaremos a sangrar.
O tempo está passando e cada instante deveria estar sendo usado para evitar o mal maior de uma estagnação econômica que pode nos transformar numa nova Venezuela ou Argentina e nos levar de volta aos padrões de desenvolvimento de 40 anos atrás. Para quem acha que isso é um exagero, basta lembrar que os argentinos já foram donos de uma das quatro ou cinco nações mais ricas do planeta, antes de entregarem todo esse patrimônio aos populistas de Peron, o pai intelectual de todos os bolivarianos da atualidade.
Um feliz Natal e um ano novo melhor do que este para todos nós.
* João Telles Corrêa Filho é engenheiro e consultor empresarial.